Texto Ana Vertuoso*

Essa pergunta aparentemente simples pode ter inúmeras respostas. Você é seu corpo, seu rosto, sua personalidade, suas roupas e marcas. Por meio de todas essas características, é possível reconhecer uma pessoa em meio às outras e identificá-la em uma fotografia. Porém, o que acontece quando uma foto é modificada até perder sua função principal de identificar quem é retratado? É isso que o artista Audrian Cassanelli explora em sua exposição '2ª via'. A vernissage acontece hoje (03/10), na Galeria Agostinho Duarte da Unochapecó, às 19h.

A vontade de trabalhar com a questão do reconhecimento surgiu ainda em 2015, quando o artista precisou renovar seu documento de identidade. "Para fazer a foto 3x4, tirei a barba, piercings e alargadores. No momento em que peguei as fotos, não me reconheci. Desse estranhamento em ter uma foto no meu documento de identificação que não me identifica realmente, veio a ideia de falar sobre isso".

Com essa experiência, Audrian começou a pesquisar mais sobre identidade, auto retrato e fotografia. Até que, a partir de diversos trabalhos que abordam temas transversais, como repetição e diferenciação, surgiu a exposição '2ª via', pensada como uma Site Specific, um trabalho que se molda ao espaço expositivo. "Na Galeria Agostinho Duarte, ela possui uma formatação, mas quando for exposta em outros locais, estará formatada de outra maneira", explica.

De acordo com Audrian, quem prestigiar os trabalhos na Galeria irá encontrar milhares de fotocópias de uma única matriz fotográfica, que se sobrepõe e ocupam todos os módulos do espaço. "O objetivo é mostrar retratos fotográficos que, ao invés de servirem para identificar, tem o rosto da pessoa fotografada desaparecendo, seja pelo excesso de luz, seja pelo excesso de sombra".

Além disso, a repetição das fotos também deu origem ao nome da exposição. "O trabalho parte de uma imagem de RG, uma segunda cópia. O termo 2ª via é comumente usado para se referir a documentos que precisamos emitir, seja por perda ou roubo. Assim, optou-se por utilizá-lo pois, ao ver a imagem de identificação, em 2015, era como se eu tivesse perdido a identidade ou se essa me tivesse sido roubada", completa Audrian.

*Estagiaria sob supervisão de Gabriel Kreutz