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Unochapecó desenvolve projeto de preservação do artesanato Kaingang

Cultura

Texto Ícaro Colella*

 

Uma cultura originária dos povos nativos do Brasil, que ao longo dos séculos, apesar de tudo, se mantém viva. Os índios Kaingang, da Aldeia Kondá, de Chapecó, são exemplo de manutenção cultural e refletem essas ações no ofício da produção de artesanato. Para valorizar essa cultura local, a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Unochapecó (ITCP), em parceria com a Funai, Sebrae e o Ministério Público Federal, desenvolve oficinas de capacitação na aldeia com o grupo de artesãos que lá vive. Os encontros ocorrem quinzenalmente, e na última quinta-feira (10/10), foi realizada a quarta reunião.

As oficinas são ministradas pela designer Silvia Baggio

O projeto objetiva organizar e estimular a produção artesanal indígena para comercialização, conservação e preservação das premissas da identidade cultural Kaingang. Essa iniciativa busca melhorar a qualidade e o acabamento dos produtos, por meio de capacitação técnica dos artesãos. O uso de materiais locais naturais são priorizados para manter a identidade e a diversidade da cultura e do artesanato Kaingang. Deste modo, após algumas visitas à aldeia, o trabalho foi iniciado efetivamente. Começou com cadastro dos artesãos interessados em constituir uma associação na Aldeia Kondá, que foi formado por 20 indígenas. 

Ao todo, serão aproximadamente 10 oficinas na Aldeia Kondá, ministradas pela designer e consultora credenciada ao Sebrae, Silvia Baggio, que traz novas técnicas de produção para os indígenas. Silvia relata que sente a empolgação nos artesãos que veem seus produtos melhorados e valorizados.

"O trabalho tem o objetivo de trazer alguns elementos que se perderam na história. Buscar inovação no sentido de melhoria do material e do processamento deste em formas contemporâneas. Mas isso não quer dizer que a gente vai descaracterizar o trabalho do povo Kaigang, muito pelo contrário", comenta.

Segundo a assistente social da ITCP, Fabiane Roman, a ideia central é dar apoio em todo o processo, desde a produção até a venda do artesanato. Ela afirma que a valorização desses produtos traz um aumento de renda e, consequentemente, melhoria na qualidade de vida dessa população. "Além disso, o trabalho visa novos mercados e faz com que o artesanato indígena seja reconhecido como um produto cultural da região, bem como valorizado economicamente, podendo ser indicado ou adquirido inclusive por profissionais das áreas de design, arquitetura, entre outros", comenta.

 

Kelita é artesã desde os dez anos e produz vários tipos de objetos

De volta

As pesquisas realizadas em campo e o contato com os mais velhos da aldeia permitiram identificar os traços culturais que o tempo levou. Foi a partir desse estudo que o povo Kaingang retomou a produção dos porongos, que eram muito usados pelos antepassados como utensílios domésticos, para guardar água e alimento. Para a artesã Kelita Rodrigues, foi importante ter isso de volta, saber como era no passado e trazer esse objeto para o dia a dia. "O que eu mais gostei foi o resgate dos porongos, que era um coisa nossa, da nossa cultura e que nós mesmos esquecemos. Um item que tinha se perdido, mas que foi resgatado graças a essa iniciativa", comenta. 

Os produtos feitos à mão são dos mais variados. Kelita, por exemplo, conta que faz artesanato desde pequena e ao longo dos anos aprendeu cada vez mais a fazer outros utensílios, que hoje ela vê que podem ser ressignificados. Colares, cestos, balaios, pulseiras, anéis, brincos, bolsas de taquara, esteiras, peneiras, tudo feito com muita cor que trazem os traços da cultura indígena. Agora a ideia é produzir com elementos 100% naturais, que exclui por exemplo as amarras de plástico e retomam a antiga forma de produção.

"Foi importante porque eu tive a oportunidade de produzir novos artesanatos. Fabricar outros tipos de utensílios, que a gente só imaginava que servia para pôr roupa, e que hoje são usado como luminária e objetos de decoração".

 

Os artesanatos também são expostos na feira da Uno (Foto: Alessandra Dias)

Novos espaços 

A coordenadora geral da Funai Chapecó, Azelene Kaingang, acredita que essa é uma iniciativa interessante, pois cria uma alternativa para os indígenas artesãos. Segundo ela, essas oficinas abrem um espaço qualificado para expor a arte deles, que não seja na rua. "Eu começo a ver resultado na qualidade do artesanato. Eles também voltaram a trabalhar com os porongos, e o acabamento do objeto, que era uma coisa que eles não se preocupavam, agora fazem parte do processo de produção, o que valoriza muito mais todo o trabalho", finaliza. 

Além das capacitações, o grupo também está participando da Feira da Agricultura Familiar e Artesanato que acontece na Unochapecó todas as terças-feiras, constituindo-se em mais um espaço para comercialização dos artesanatos deste grupo. Também, durante a realização deste trabalho, os artesãos foram convidados a participar da Mostra de Arquitetura e Design de Chapecó - Decorare, que ocorre entre 10 de outubro e 14 de novembro, no 'Castelinho'. O espaço elaborado pela Ampliza Arquitetura na Mostra, inspirado na cultura Kaingang, conta com produtos desenvolvidos pelos indígenas e que, sob orientação, seguiram a temática sobre os clãs da Aldeia: Kamé e Kairu.

 

*Estagiário sob supervisão de Gabriel Kreutz

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