Curso de Engenharia Mecânica realiza entrega de órtese desenvolvida durante ABEx
Chapecó, 16 de agosto de 2024 - Contato com a profissão e cuidado com a comunidade, esses são os pilares da Aprendizagem Baseada em Experiências (ABEx). Presente em todos os semestres dos cursos da Uno, a ABEx intui qualificar nossos estudantes para o mercado de trabalho com práticas imersivas e atuação com clientes reais. Na última sexta-feira (09), o curso de Engenharia Mecânica realizou a entrega dos produtos desenvolvidos no componente 'ABEx V: Projetos Mecânicos em Ação III' e escreveu mais uma bela história no comprometimento com a comunidade.
Durante o último semestre (2024/1), os estudantes do 5° semestre foram desafiados a projetar e fabricar uma órtese personalizada para membro superior, com intuito de auxiliar no tratamento de um paciente com quadro de AVC. Em parceria com a Clínica Corpo e Alma, de Chapecó, e atuação de fisioterapeutas especializados no caso, foi realizado o levantamento dos dados técnicos a respeito do paciente e das especificidades da órtese requerida por ele.
Pai da professora Micheli Zanetti, que atua nas Engenharias, Ermes João Zanetti, 64 anos, é o paciente apoiado pelo curso. Acometido por uma trombose cerebral em 2022, Ermes foi impossibilitado de receber a medicação com trombolíticos, tendo como segunda medida de tratamento uma cirurgia, a qual, de forma mecânica, seria feita a retirada do trombo. Mas, o tempo entre a troca de hospitais ultrapassou a janela permitida para a realização da cirurgia, deixando duas sequelas significativas: a perda dos movimentos do lado direito e a fala.
"Meu pai não é daqui, ele é do interior de Coronel Freitas, mora lá na linha Roncador, então pra que a gente pudesse ter acesso a tudo que era possível ele fazer, eu trouxe ele pra Chapecó. Quando ele teve o AVC ficou na minha casa por seis meses, e durante esse tempo quem tratou ele foram as fisioterapeutas Miriam e Priscila, da Clínica Corpo e Alma".
Com muita luta, atingindo até sete fisioterapias semanais, hoje Ermes retomou os movimentos da perna direita e pôde andar novamente. Naquele momento, seu desejo foi retornar para sua casa, no interior, onde sentia-se bem e podia continuar suas sessões de fisioterapia. Pouco tempo depois, as dores no braço começaram a aparecer, ocasionada pela atrofia da mão que ficava fechada por conta do nervo contraído, um dos padrões do AVC.
Para que a dor fosse minimizada, Ermes teria que, durante à noite, fazer o uso de uma órtese, configurada como um dispositivo externo aplicado ao corpo para auxiliar na modificação de aspectos funcionais ou estruturais do sistema neuro músculo-esquelético. Micheli iniciou a busca em Chapecó, mas a resposta encontrada era que poderia adquiri-la apenas em Curitiba.
Contudo, para fazer a órtese em Curitiba a família teria que se deslocar para lá, afinal o modelo é feito em gesso para encaixar na mão de cada paciente, elevando, assim, o custo do produto. "Nós teríamos um custo bem elevado para desenvolvê-la. E aí eu pensei, 'por que não fazer uma parceria com os alunos da Unochapecó para que o pessoal da Engenharia Mecânica desenvolvesse algo para esse fim?'", conta.
A produção
O objetivo era manter a mão de Ermes aberta durante um período do dia para influenciar beneficamente sua saúde. "A gente quer a mão mais solta, mais aberta, para quem sabe, futuramente a gente resgatar algum movimento, algum pinçar, alguma coisa nesse sentido", espera a professora.
Assim, o desafio foi lançado para turma do professor André Grando: desenvolver a órtese empregando técnicas adotadas no desenvolvimento de produtos. "Eu trouxe meu pai até a Uno e apresentamos o caso dele pros alunos, para os estudantes. Fiquei bem feliz com a recepção que eles tiveram, com a empatia. Deu para perceber no olhar deles que queriam ajudar, saíram na hora fazendo muitas perguntas e pegaram como desafio. Eles queriam entregar o melhor para a situação que a gente apresentou", lembra Micheli.
Em um primeiro momento, questionários para captação dos requisitos de projeto da órtese foi elaborado e aplicado ao paciente e a profissional de fisioterapia responsável pelo tratamento. Com as informações coletadas, foram desenvolvidas as etapas de projeto informacional e conceitual, para, então, dar continuidade a construção de moldes em gesso da mão de Ermes. Em seguida, ocorreu o escaneamento 3D dos moldes para a geração dos modelos virtuais com as características ergonômicas mapeadas.
Após a etapa de modelagem, especificação dos materiais e dos processos de fabricação, as órteses foram construídas através de técnicas de impressão 3D. Com os protótipos fabricados, começaram as montagens dos elementos de fixação e inserção dos materiais de conforto. E no dia 09 de setembro, a órtese foi entregue ao paciente. O professor André sublinha que ainda planeja-se acompanhar e avaliar os pontos positivos e negativos dos produtos para documentação, adequação e implantação de futuras melhorias.
André reflete, ainda, sobre como os estudantes tiveram a experiência em explorar o nicho em potencial relacionado às demandas da área de saúde, com produtos que requerem atenção às particularidades fisiológicas e do tratamento de cada indivíduo.
"(Os estudantes) tiveram a oportunidade de aplicar ferramentas e processos de fabricação modernos, como escâner 3D e manufatura aditiva (impressão 3D), bem como colocar em prática os conceitos e as técnicas inerentes ao desenvolvimento de produtos. Bem como, perceberam a importância do papel do engenheiro mecânico em entregar soluções de engenharia que agregam a sociedade e que melhoram aspectos da qualidade de vida associados ao tratamento de pacientes que fazem uso de órteses", explica.
A família considera a entrega simbólica e linda. Em princípio, as órteses esperadas para utilizar somente à noite, puderam ser utilizadas durante o dia também. A felicidade estava presente em cada ponto do Laboratório Pronto 3D, afinal o projeto é pioneiro e passará por atualizações e novas conformidades, e, parafraseando a professora Micheli, "quantas outras famílias podem atender a partir disso?".
O impacto da órtese será sentido no dia a dia da família Zanetti, com a redução da dor e, esperançosamente, o retorno de alguns movimentos. E, para o curso de Engenharia Mecânica, uma nova área de atuação foi apresentada, ampliando as possibilidades dos futuros profissionais e cuidando da nossa comunidade.
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Texto: Ionara Virmes/AI Unochapecó
Crédito fotografias: Luiz Narciso Alves da Fonseca/MKT Unochapecó