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O papel da Universidade na produção e qualificação do cinema regional

Cultura

Texto Tuanny de Paula*

 

Contar histórias e viver elas. Representar a vida de diversas maneiras. É comum pensarmos nos filmes americanos quando falamos de cinema, mas o Brasil não fica para trás. A aproximação com a nossa cultura e problemas políticos, econômicos e sociais mostram a cara do país. Cidade de Deus é um exemplo disso, e ainda hoje é usado como inspiração para outras produções mundo afora. Aqui na região Oeste catarinense, os filmes também ganham espaço e contam narrativas do dia a dia. A Unochapecó, por meio dos cursos de Produção Audiovisual, Jornalismo e da Pós-Graduação em Cinema, auxilia nessas construções, profissionalizando as mentes criativas e inovando a forma de fazer cinema na comunidade.

No dia 19 de junho, é celebrado o Dia do Cinema Brasileiro e podemos perceber que nos últimos anos as produções nacionais começaram a ganhar mais espaço nas telas. Minha mãe é uma peça, Tropa de Elite, Que horas ela volta? e Bingo: o rei das manhãs são exemplos. Segundo a coordenadora do curso de Produção Audiovisual da Universidade, Dafne Pedroso da Silva, ainda se tem uma grande concentração de produções cinematográficas no eixo Rio-São Paulo, mas aos poucos outros polos também crescem, como o Nordeste e o Sul. "Tem se procurado retratar outras figuras e lugares, olhando para outros sujeitos e outras histórias", explica.

Além dos blockbusters brasileiros, ou seja, filmes populares e de sucesso de bilheteria e que levam as pessoas para as cadeiras acolchoadas e tela grande, a pluralidade das obras se destacam. As temáticas juvenis, urbanas, do sertão e da favela, assim como a desconstrução de preconceitos sobre esses assuntos, mostram o olhar sensível desses contadores. "O Estado, assim como as pessoas, precisam reconhecer o cinema como uma linguagem, como algo que nos entretem, mas que nos faz pensar e colabora com o repertório de cada um", comenta a professora.

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Um olhar para o real

Algumas construções de história são documentais. A ficção geralmente tem pouco espaço nesse gênero, que tem por costume contar a história como ela é, através de uma lente e de seus personagens. Esse por sinal, se apresenta naturalmente, sem um roteiro determinando o que precisa falar ou fazer.

O documentário brasileiro tem nomes marcantes, que produziram e ainda produzem filmes com narrativas peculiares e desconhecidas. Eduardo Coutinho com o seu Edifício Master, Marcos Prado com Estamira, Lygia Barbosa da Silva com Laerte-se, Alice Riff com Meu Corpo é Político e Eliza Capai com #Resistência. Esses são só alguns exemplos.

A professora Ilka Margot Goldschmidt atua nos cursos de Jornalismo e Produção Audiovisual da Unochapecó ensinando os estudantes sobre esse gênero, entre outros tipos de produções. Ela também atua como documentarista, contando momentos esquecidos ou apagados pelo tempo, como é o caso do seu mais recente longa-metragem Dom Quixote das Artes.

Antes de tudo, a professora explica que o cinema nasce documental, pois a primeira produção feita pelos irmãos Lumière foi pensada nesse gênero. No Brasil se seguiu a mesma linha, com um cinema clássico, educativo e de promoção do país. "Somente na década de 60 que uma nova linguagem de documentário começa a ganhar força e nos últimos anos a gente vive um boom desse estilo de se fazer cinema". A construção de espaços de exibição, a visibilidade e as novas ideias de abordagens também se tornam atrativos para o público assistir. "O documentário aborda o real, com caráter autoral do diretor, com o olhar dos personagens e construindo uma identidade cultural", completa.

Aqui na região Oeste catarinense, a Universidade proporciona direta ou indiretamente um grande auxilia no extenso catálogo de filmes produzidos. Ilka acredita que já foram realizados cerca de 200 filmes documentais pelos cursos de Jornalismo e Produção Audiovisual. "A academia ajuda a fomentar a área e os profissionais saem com um olhar sensível para essas histórias". Já passaram pelo cinema da cidade filmes produzidos pelos estudantes, como Karla com K, Acampamento Marcelino Chiarello - a terra que alimenta a resistência! e A banda do Orlando.

 

Amor por acaso

Em 2015, Cleiton Fernandes estava terminando o cursinho para vestibular. A ideia inicial era Odontologia, mas encontrou um folder da Unochapecó em cima da mesa do professor de química e se interessou. Pesquisando a lista de cursos ofertados pela Instituição, encontrou Produção Audiovisual. "De cara me chamou a atenção, já que o nome sugere áudio e minha ligação com a área já vinha de longa data, relacionada com música, som ao vivo e gravação em estúdio".

Após pesquisar sobre o curso e entender as suas especialidades, deixou de lado a ideia de fazer outra graduação. Cleiton se formou no curso e seguiu o seu caminho profissional para além de Chapecó. "Nesse momento, atuando em diversas produções nacionais, tanto na publicidade como no cinema, fica muito claro o quão importante foi o papel da Universidade para a minha formação".

Para ele, as produções desenvolvidas pelos estudantes durante a graduação é de grande valia para o desenvolvimento do audiovisual regional.  "Num mercado ainda em fase inicial de crescimento, cada obra desenvolvida vai ser importante para aumentar o acervo e o conteúdo dos filmes produzidos regionalmente, servindo de estímulo ao cinema e produção de conteúdo local e regional", explica. E são essas pessoas que, geralmente, abrem o mercado e qualificam o trabalho cinematográfico por aqui.

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As histórias perto da gente

As produções locais crescem a cada dia, e esse processo de representações aumenta a qualidade dos filmes. E a Unochapecó ajuda nesse processo de pensar e construir cinema. Toda a semana, durante as quatro horas diárias em que os estudantes passam dentro da Universidade, novas ideias surgem e são executadas. A professora Dafne explica que alguns elementos, como montagem e direção de fotografia, são cada vez mais especializados e mostram a boa qualidade do curso. "Algumas coisas ainda precisam ser melhoradas, como roteiro, que depende das experiências vividas pelos acadêmicos na hora da escrita, e direção de atores, por exemplo".

Filmes como 'Clareando', da primeira turma de pós-graduação em Cinema e Realização Audiovisual, 'Palito', da disciplina de Realização Audiovisual II de 2017, 'Silêncio, diga-me', da turma de Realização Audiovisual II de 2015, já foram pensados, dirigidos e montados dentro da sala de aula. "É necessário passar por um processo de construção profissional e sair para o mundo contribuindo para a área", finaliza a professora.

 

Quem faz o cinema brasileiro

A Agência Nacional de Cinema (Ancine) iniciou um projeto que tem como objetivo analisar a diversidade nas telas brasileiras. No ano de 2016, os resultados mostraram que as produções ainda se apresentam brancas e masculinas. Foram analisados 142 longa-metragens lançados comercialmente no ano, dos quais 97 são obras ficcionais, 44 são documentários e um é animação.

Segundo o relatório, as funções de direção, roteiro, produção executiva, elenco, direção de fotografia e direção de arte foram analisadas, envolvendo mais de mil pessoas nessas atividades. Os resultados da pesquisa mostraram que os filmes dirigidos por pessoas brancas alcança 97,2%. Dentro disso, 19,7% foram conduzidos por mulheres e apenas 2,1% por homens negros. Neste dado, nenhum filme foi dirigido ou roteirizado por uma mulher negra.

Já os documentários mostram uma presença maior das mulheres. Naquele ano, 29,5% foram dirigidos por elas, enquanto nas obras ficcionais representam apenas 15,5%. É possível verificar outros dados para as áreas de direção de fotografia e roteiro, nas quais a presença masculina ainda é maioria. O único setor onde a mulher ganha destaque é na produção executiva, na qual representa 39,7% do total.

 

*Estagiária, sob orientação de Greici Audibert
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