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Pesquisa estuda uso dos créditos de carbono em propriedades rurais

Educação

O Brasil é reconhecido mundialmente por seus biomas e pela forma como eles se adaptam a diferentes cultivos e seus manejos. Com a evolução da tecnologia desenvolvida dentro do agronegócio e a ocupação de novas áreas agrícolas (que permitiu que o País se tornasse um dos maiores produtores de alimentos do planeta), surgiram também situações complexas, como o aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Esse aumento, por sua vez, é apontado como um dos causadores do efeito estufa, tema de muitos estudos e debates entre os cientistas em todo o mundo. 

Mas como isso está relacionado com os produtores agrícolas do Oeste de Santa Catarina? Quem explica é a doutora em Desenvolvimento Rural e professora da Unochapecó, Cristiane Tonezer. De acordo com ela, a região apresenta uma diversidade de produções que abrange agricultores familiares e não-familiares, atuando de formas mais intensivas ou mais alternativas, semi-intensivas ou agroecológicas. “A questão é compreender o quanto essas formas de agricultura emitem CO2. Trazer essa comparação serve justamente para provar que as propriedades de cunho mais familiar, que têm, por exemplo, um olhar para a sustentabilidade, emitem menos CO2 e também captam mais CO2, mas tudo isso não é medido. Temos um potencial muito grande de geração de recursos, inclusive para essa agricultura familiar, mas que não está sendo observado”.

Essa capacidade de geração de recursos está relacionada à emissão e captação dos créditos de carbono pelo agro, que é tema da pesquisa da engenheira agrônoma Alana Maria Polesso, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da Unochapecó. A pesquisa é orientada por Cristiane e pela professora, e também doutora, Carolina Baretta.

“A hipótese que norteia nossa pesquisa está direcionada para a idéia de que os créditos de carbono podem servir como estímulo direto ou indireto, financeiro ou econômico, para que a agricultura de baixo carbono se sobreponha aos atuais modelos fixados de produção, como por exemplo, o uso excessivo de agrotóxicos, a monocultura, a intensificação da produção. É possível dar prioridade cada vez maior para a produção de alimentos através de sistemas sustentáveis que visem à qualidade tanto do alimento como da produção priorizando o meio ambiente”, afirma Alana.

A doutoranda explica que a pesquisa está estabelecida na busca de respostas para questionamentos que permeiam o tema. “Queremos compreender quais são os mecanismos de monitoramento e regulação de emissões, sequestro, e de créditos de carbono, quais os indicadores de medidas para a emissão, identificando na prática os potenciais de compensação de créditos de carbono e possível monetização. Também buscamos comparar a emissão e a captação de carbono nas diferentes categorias da agricultura e validar os indicadores diretamente nas propriedades rurais”, conforme a pesquisadora.

A pesquisa ainda está em fase inicial, mas já há indícios de que monetizar as práticas de redução da emissão do crédito de carbono pode ser uma saída importante para todos os envolvidos: o agricultor passa a receber pelas práticas sustentáveis em sua propriedade e o meio ambiente se beneficia. “Isso só será possível se nós medirmos e se isso for monetizado. Nesse sentido, ainda não temos uma política pública ou medidas em andamento que garantam o quanto uma propriedade pode gerar de créditos de carbono”, ressalta Cristiane. Embora já exista um projeto nacional sinalizado recentemente neste sentido pelo Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, ainda há um longo caminho até o estabelecimento dos parâmetros mais adequados. Por essa razão, segundo a orientadora, a pesquisa desempenhada por Alana tem alta relevância para auxiliar na constituição do mercado dos créditos de carbono no Brasil. 

 

Compromisso

Em 2015, o Brasil assinou o Acordo de Paris. Entre outras metas, o País se comprometeu em aumentar a participação da bioenergia sustentável, de reflorestar 12 milhões de hectares e alcançar 45% de energias renováveis nos próximos anos. O acordo está relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São 17 metas que fazem parte da Agenda 2030 (o mais importante projeto da sociedade globalizada contemporânea), que visam construir e implementar políticas públicas para desenvolver a humanidade de modo sustentável, propondo a melhora progressiva na qualidade de vida. Paralelamente, o Brasil vem assumindo responsabilidades por ser signatário do Protocolo de Kyoto, que estabelece medidas para a redução dos gases que influenciam no efeito estufa. 

“Os créditos de carbono da agricultura podem advir de outras atividades que impactam positivamente na redução do carbono. Então, tanto os agricultores mais intensivos quanto os agroecológicos têm opções para diminuir a emissão dos créditos de carbono, como o reflorestamento, o plantio direto em substituição ao plantio tradicional, além de outras ações que também geram esses créditos, como a utilização de biodigestores, biomassa e a conservação de áreas verdes na propriedade rural”, finaliza Cristiane.

 

Texto Leticia Sechini e Ionara Virmes

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TAGS
Mestrado
Ciencias ambientais
Carbono
Atmosfera

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