Algumas vitórias não se resumem em levantar um troféu ou chegar em primeiro lugar. Na verdade aquelas que mais nos orgulham são as que conseguimos nos superar, ir além do que esperávamos e melhor do que um dia já fomos. A equipe Fórmula Uno não ficou entre as primeiras que mais pontuaram no Fórmula SAE Brasil, que chegou ao fim neste domingo (02/12), mas demonstrou que um carro, criado por várias mãos, com tanta dedicação e que não deixou de realizar nenhuma prova, é motivo de muito orgulho.

O último texto deste diário, apesar de não vir com a foto de um prêmio, tem um final feliz. Na classificação geral, a Fórmula Uno acredita ter alcançado uma boa colocação, no cenário com mais de 80 equipes de todo Brasil. Ainda não se sabe ao certo qual a posição final, mas participar de todas as provas representa uma evolução para o grupo. Este é o quarto ano em que a equipe da Unochapecó participa da competição e foi, de longe, a edição com o melhor desempenho deles.

Mas para contar essa história da maneira correta, preciso voltar ao sábado (01/12), quando começaram as provas que valiam pontuação, onde os carros foram para a pista. O dia começou chuvoso e a presença do sol ainda era uma incógnita. Porém, até o fim do dia, sol e chuva se revesaram ao extremo para marcar o clima de sábado. Mas nem isso atrapalhou a equipe, ao contrário, proporcionou mais emoção para as conquistas naquele dia.

Pista molhada? Bora

Primeiro, foi a vez dos pilotos disputarem a prova de aceleração. Depois, o SkidPad. Nas duas provas realizadas pela manhã, a equipe conquistou boas pontuações. Mesmo que não foram os melhores resultados de toda competição, poder participar destas duas etapas teve um gosto especial.

No ano passado a equipe não conseguiu disputar estas duas avaliações, pois estava atarefada com melhorias que precisavam ser feitas no carro. Só o fato de participar e pontuar nestas provas, já deixou a Fórmula Uno na frente de equipes que nem conseguiram realizar elas. Na parte da tarde foi a vez do Autocross. Nessa avaliação os pilotos andam em uma pista com obstáculos e devem fazer o percurso completo, no melhor tempo possível. Quando a Unochapecó realizou a primeira das quatro voltas, fazia sol, mas depois de completar ela, a bateria do carro deu problema.

Com isso a equipe voltou para o box, tratou de arrumar o que precisava e, em cerca de meia hora, estava de volta para a segunda volta do piloto Erick. Quando ele enfim completou a prova e era hora de trocar de piloto, o tempo virou. Começou a chover e mais uma vez o carro foi às pressas para o box, a baixo de chuva. Desta vez eles substituiriam os pneus de pista seca, para pneus de pista molhada.

No local da prova, todas as equipes já haviam parado, esperando que a chuva passasse, mas assim que deu uma trégua, a equipe de Chapecó chegou na pista molhada e o capitão e piloto da equipe, André, completou as duas voltas que faltavam. Quando acabou, descobriram pelos juízes que há dez anos ninguém corria naquela pista molhada durante a competição, que em 2018 realizou sua 15ª edição. Além de completar todas as tarefas do dia, quebraram um jejum da Fórmula SAE.

"Que orgulho desse carro". Ouvi isso não só uma vez dos integrantes. Quando acabou, a maioria dos times ainda não tinha completado a prova, e diferente dos outros dias, a Fórmula Uno já estava tranquila, podendo ir para o hotel antes do previsto. A felicidade tomou conta, mas só ficaria completa no domingo, quando finalmente completasse a prova do Enduro.

22 voltas de aflição

 No último dia da competição, restava a mais difícil e aguardada prova a ser realizada, o Enduro. Basicamente, o carro devia percorrer um trajeto de 22 km, com 1 km em cada volta. Participam dois pilotos e cada um deve realizar 11 voltas com o carro. Pode parecer simples, mas imagine um veículo, que ainda é um protótipo, percorrer um trajeto tão longo, sem ter garantia do que pode acontecer. Não se sabe nem se vai completar o trajeto, muitos participantes acabam com o veículo quebrado em poucas voltas depois do início.

E as lembranças das últimas competições não eram muito boas. A primeira vez que a equipe conseguiu realizar esta prova foi no ano passado, mas já na segunda volta o carro quebrou. Então, além da complexidade da prova, os pilotos Gustavo e Felipe tinham que enfrentar, também, o fantasma que assola a equipe nesta fase.

Era 11h15 quando iniciou a prova, mas a Fórmula Uno foi só a quarta equipe a realizar o trajeto. A cada volta, uma aflição diferente tomava conta de uma parte da equipe que acompanhava a prova na arquibancada, e outra que assistia o que conseguia nos bastidores. Mas deu tudo certo. Primeiro Felipe completou sua prova e logo em seguida Gustavo fez sua parte e fechou com chave de ouro a competição, completando uma etapa inédita para o grupo. As três equipes que dispararam antes não conseguiram concluir a prova e a equipe da Uno foi a primeira a completar esta etapa. Entre as primeiras equipes que terminaram o circuito, o Fórmula foi o que conseguiu os melhores resultados por voltas, depois as mais tradicionais dispararam com as pontuações mais altas.

Mesmo com o bom desempenho, todos sabiam que não tinham ficado em primeiro lugar, mas a comemoração foi como se tivessem levantando o troféu. Abraços, gritos, até algumas lágrimas caíram. Acho que não tem forma melhor de terminar uma competição, baseada em superação, conhecimento, amizade, alegria e emoção. Pela primeira vez a equipe participou de todas as provas que pontuam, além de passar de primeira nas provas de segurança e superar medos como uma pista molhada. Só isso já é motivo para muita comemoração. 

As páginas da Fórmula Uno não acabam aqui, para o próximo ano o desafio será ainda maior. Primeiro, evoluir na competição e segundo refazer todo o carro, com um projeto totalmente diferente. A certeza é de que quem participou desta trajetória sai muito mais motivado, com um conhecimento que agrega para além da Universidade e um orgulho enorme de tudo que foi vivido em Piracicaba.