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O curso de Letras Libras da Unochapecó durante a disciplina de História da Educação de Surdos, promoveu um momento ímpar para a discussão da educação de surdos e o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Para a professora Tania Mara Zancanaro Pieczkowski, responsável pela disciplina, a proposta foi reunir pessoas que marcaram e marcam a história da educação de surdos em Chapecó e região. Além de possibilitar aos estudantes de Letras Libras a compreensão dos currículos considerados adequados ao longo do tempo, culminando com a valorização atual da educação bilíngue que se traduz pelo uso da Língua de Sinais e o português escrito.

A aula aconteceu no auditório do bloco R3, no dia 15 de junho. A primeira a falar foi a professora Terezinha Miriam Martins Garcia. Hoje aposentada, ela carrega viva toda a experiência adquirida em décadas de atuação como professora de surdos. Em 1966 ela ingressou no primeiro curso para surdos no Rio de Janeiro, oferecido pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines).

Daquela época, a professora Terezinha relatou ao público as restrições na utilização de sinais durante processo de ensino/aprendizagem de surdos. Todo e qualquer sinal deveria ser repreendido. Focado na formação oralista, o ensino de surdos, na época, era feito em frente ao espelho, onde o professor apresentava ao aluno (surdo) os pontos de vibração durante a pronúncia de sílabas, fonemas e o alfabeto. Além disso, o movimento labial também era identificado e memorizado. “O processo de aprendizado dos surdos seguia até o momento em ele fosse capaz de compreender frases (faladas), escrever e se comunicar com um ouvinte por meio da fala, mesmo com dificuldade”, conta Terezinha.

“Foi um choque quando começaram a ensinar sinais, perto de 1998. No início eu achava estranho. Cheguei a ser contra, pois acreditava que isso restringia a comunicação deles ao seu próprio mundo. Agora, entendo que para o surdo, a língua de sinais é muito importante”, explica Terezinha. A professora aposentada entende que a linguagem de sinais permite ao surdo se comunicar melhor entre si e também entender melhor o mundo.

Compartilhando histórias

Entre os momentos marcantes da aula esteve o depoimento da senhora Ana Maria Bellenzier. Desde que o filho Leonardo teve detectada a surdez, ainda bebê, a mãe tratou de buscar informações para aprender a lidar com essa nova situação para a família. Para ela, o aprendizado da língua de sinais foi fundamental para o convívio e compreensão de ambos. Ana Maria falou das dificuldades do período de alfabetização. “O Leonardo ia a uma escola regular, onde os professores não conheciam a língua de sinais. Ele perdeu muito conteúdo e gerou um atraso no aprendizado”, relata a mãe. Com muito incentivo em casa, Leonardo continuou os estudos chegando até o Ensino Médio. “Ele só começou a gostar de estudar no segundo ano do Ensino Médio, em Caxias do Sul, em uma escola para surdos onde cada professor sabia a língua de sinais”, disse Ana.

Apesar das dificuldades em aprender a língua de sinais, para Ana Maria “é preciso muita paciência para entender a língua de sinais, assim como também não é fácil para os surdos”. Mesmo assim, ela acredita que os pais devem sim aprender a língua de sinais, pois “tem coisas que só os pais podem ensinar aos filhos”.

Outro convidado para dividir experiências foi Albano Bock, o fundador e primeiro presidente da Associação de Surdos de Chapecó (ASC). Ele veio acompanhado da esposa Sirlei Bock e da filha, Suzana Nock, que também são surdas. Nascido no interior de Palmitos, ele relatou as dificuldades de conviver com uma sociedade onde mal era compreendido.

Aos 9 anos teve a oportunidade de ir morar na região da grande Porto Alegre, onde encontrou muitos surdos e pode estudar, porém sem usar sinais. Albano relata que chegava a levar “reguadas” na mão quando fazia sinais enquanto se comunicava. Depois de estudar, voltou a Palmitos onde trabalhou como assistente de professor de Educação Física. Após oito anos veio para Chapecó onde trabalhou em uma gráfica, casou-se e sentiu a necessidade de reunir os surdos. Foi quando criou a ASC. Albano relatou sua difícil história com alegria e uma pitada de humor, deixando claro que momentos muito piores já passaram, mas que muito ainda há por se fazer para garantir os direitos e o bem estar dos surdos.

Participaram também da aula como convidados os professores de Libras, Mirley Martins Garcia Antonini e Anderson Luchese, a coordenadora do curso Márcia Surdi e a técnica em Educação Especial, Juliane Janaina Leite Brancher.

Os estudos tiveram continuidade no período vespertino, quando aconteceu o debate do livro “Vendo Vozes” de Oliver Saks. A obra aborda o papel das famílias para o desenvolvimento das pessoas surdas, a importância do acesso à língua de sinais precocemente para o desenvolvimento da identidade surda. O livro também tratada organização do grupo na universidade de Gallaudett (EUA), a qual há 25 anos a direção da instituição é ocupada por surdos. Conforme Tania o dia foi avaliado como produtivo pelos estudantes e demais participantes.

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