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Um passeio pela essência do rock and roll

Cultura

Texto: Juliane Bee*

 

Há quem diga que suas raízes são provenientes da fusão do rhythm and blues (R&B) e do country & wester, ritmos que retratavam duas realidades diferentes, a branca e a negra, dos Estados Unidos da década de 50. Mas sua popularização deve-se ao jovem que não seguia regras, Elvis Presley. Apesar de todas as influências e modificações que sofreu e vem sofrendo ao longo dos anos, o rock and roll se faz fortemente presente na vida das pessoas. De crianças a idosos, o ritmo vai muito além de um estilo musical. Representa um estilo de vida. E hoje, 13 de julho, é comemorado o Dia Mundial do Rock.

Assim como nos Estados Unidos, no Brasil, os jovens também foram responsáveis pela popularização do rock. Em meio a disputas entre o capitalismo e o comunismo, o jovem americano buscava seu grito de resistência nas letras de Bill Haley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e o rei do rock and roll, Elvis Presley. A música era a ferramenta de insatisfação dos intitulados "rebeldes sem causa".

Já em terras tupiniquins, na década de 60 o movimento da Jovem Guarda inaugurou o que seria o rock nacional. As letras falavam sobre amor, carros e velocidade. Nomes como Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Sérgio Murilo e Wanderléa, animavam festas de aniversário da época. A banda Relâmpagos do Rock, da qual Raul Seixas fazia parte, surge para mudar o cenário. Apresentando um estilo de rock diferente suas músicas abordavam críticas sociais.

A banda Mutantes, formada por Rita Lee, Arnaldo e Sérgio Baptista também integrou essa nova vertente e assim como outros artistas da Jovem Guarda e do movimento Tropicalista, tiveram suas letras censuradas durante a ditadura militar (64-85). E foi exatamente a censura do governo o estopim para o surgimento das principais bandas brasileiras de rock da década de 80.

Saindo de um período turbulento da política brasileira, jovens de 20 e poucos anos se reuniam para tocar música. Nesse período surgem Barão Vermelho, Blitz, Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha e Ultraje a Rigor. O novo rock brasileiro refletia uma juventude que ansiava por mudanças. As letras questionavam direitos simples como “a gente quer comida, diversão e arte". O estilo musical predominante nas rádios brasileiras era o rock.

Mas muita coisa mudou desde os anos 80. Hoje, ao ligar o rádio, as estações - em sua maioria - dividem sua programação entre o sertanejo, música pop e especiais voltados aos sucessos de antigamente. Ainda assim, existem programas que resistem e nadam contra a corrente, tocando exclusivamente o rock e suas misturas, como analisa o professor da Unochapecó e vocalista da Banda Repolho, Roberto Panarotto.

PanarotoPara o professor, o rock em sua “forma pura” talvez exista somente nos clássicos. O que ouvimos atualmente são misturas de gêneros e subgêneros que acabam sempre criando outros derivados. "O ser humano tem essa necessidade de rotular, e as bandas, de uma forma geral, buscam inovações e misturas com o intuito de chamar atenção para um lado mais comercial", comenta.

Apesar de curtir um som mais clássico, o músico afirma que existem músicas boas em todos os momentos da história do rock e, hoje, o que é visto como novo e misturado, já foi atribuído a bandas do passado. "Acho perigoso esse tipo de comentário: ah, música boa era da época tal. Até porque, quem diz isso sempre traz junto um apego nostálgico. Não sou apegado. Gosto de ouvir coisas novas, novas misturas e possibilidades".

Segundo ele, o rock continua - e vai continuar - presente na vida das pessoas porque o interesse se renova. "O consumo das coisas é cíclico, ou seja, sempre vão ter pessoas ouvindo e se relacionando com aquilo que fez parte do passado. Esse sentimento faz parte de uma memória afetiva", conclui.

Um dos fatores que contribui para que o rock continue popular entre as novas gerações é o formato de distribuição e consumo de música, que também mudou. Há quem ainda prefira comprar o CD físico, por apego à tradição ou para aumentar sua coleção. Mas hoje, com apenas um clique, é possível baixar uma música no celular. Do CD ao download para os serviços de streaming. A forma de se ouvir música vem se reinventando.

Antes, a popularidade de um músico ou banda era medida a partir do número de álbuns vendidos e pelas críticas em revistas especializadas, como a Rolling Stone. Atualmente, o número de reproduções e views medem a popularidade, assim como resenhas em blogs na internet. Caso o ouvinte se interesse por uma música que está tocando na rádio, ele pega um trecho e procura na rede. Em seguida pode compartilhar nas mídias sociais com os amigos e adicioná-la a uma playlist no Spotify. O YouTube se tornou a ferramenta número um para busca de novas músicas.

amandaA plataforma, inclusive, foi a escolha da estudante do curso de Publicidade e Propaganda da Unochapecó, Amanda Cadore, para lançar seu trabalho autoral. A música Travesseiros, publicada em abril de 2017, faz parte de uma trajetória que começou cedo e teve o rock como referência. "Quando toquei a música para alguns amigos eles disseram 'vamos mostrar para o mundo, 'quero ter essa música no meu celular', então resolvi postar o vídeo na internet e apresentar meu trabalho", conta.

Tocando violão desde criança, a estudante comenta que, ao descobrir como ouvir música na internet, passou a pesquisar bandas e suas discografias. O rock foi pioneiro e a introduziu a outros estilos musicais que não estava familiarizada. "Cresci em meio a cena regionalista, não pude evitar o sertanejo, mas ao conhecer o rock, descobri que haviam outros estilos, diferentes do que eu sempre ouvia."

Para ela, o rock foi muito importante em seu processo de formação como artista, pois suas primeiras influências saíram do ritmo. "Foi ao absorver artistas da cena do rock que abri portas para conhecer o blues, o grunge, o indie e o folk, onde me encontrei." A ideia de Amanda é produzir conteúdo e usar a internet como ferramenta para que as pessoas conheçam o seu trabalho.

Diferente de 20 anos atrás, quando, para artistas fazerem sucesso e serem conhecidos, era obrigatório o contrato com uma gravadora, hoje, bandas e músicos podem utilizar as plataformas disponíveis na internet para divulgarem seus trabalhos. Uma alternativa para compositores, por exemplo, é a MusicMe que, segundo o CEO, Gefferson Vivian, é um ponto de encontro para músicos e compositores.

musicO site, é uma forma de compositores divulgarem suas letras para músicos, bandas e produtores de todo o Brasil e até mesmo de outros países. Desenvolvida na Incubadora Tecnológica da Unochapecó (Inctech), a MusicMe conta com 198 músicas cadastradas e mais de 480 usuários. Para Gefferson, além da gratuidade na hora do cadastro, a facilidade em usar as ferramentas do site é um dos diferenciais. “Em um clique o compositor expõe sua letra na plataforma. Se algum músico se interessar, ele entra em contato, paga o valor estipulado e adquire os direitos autorais”, explica.

Segundo Gefferson, a ideia do projeto surgiu quando ele voltava para casa em uma noite e parou para ouvir a letra de uma música que tocava no rádio. “Pesquisei na internet como os compositores fazem para escrever letras. É difícil e exige muito. Depois de escrever, como  divulgar uma música para artistas sem precisar ficar na porta de entrada de shows ou mandar CDs para gravadoras? A partir desse questionamento surgiu a MusicMe”, explica.

Na plataforma, ao cadastrarem suas letras, os compositores podem escolher o gênero musical, mas isso não impede que o comprador transforme o ritmo. Atualmente, 17 músicas integram a categoria Rock, número pequeno se comparado ao Sertanejo, líder no site com 48 letras.

Mas a explosão do Sertanejo nos últimos anos não assusta nem um pouco o músico Eduardo Menezes, produtor audiovisual da Unochapecó e integrante da banda de rock Carlota Joaquina. Influenciado pelo pai, desde criança ele possui uma ligação com a música. O sertanejo, inclusive, já fez parte do seu repertório, ainda no início da carreira. Porém, ao conhecer nomes como Eric Clapton e Jimi Hendrix, ele teve a certeza de o rock era a sua praia. 

carlotaA garagem, foi o ponto de encontro nos primeiros ensaios, mas atualmente a realidade é outra. Um estúdio em casa auxilia a banda na hora de gravar as músicas. O rock foi o ritmo escolhido por ele para expressar sua personalidade, sentimentos e pontos de vista. "Começamos a banda em família, eu, meu irmão, nosso primo e um amigo. Tivemos muitas experiências nesses quase 10 anos de banda que nos fizeram amadurecer profissionalmente."

Para o músico, o rock é figura presente em sua vida. Ele destaca uma experiência que vivenciou ao se apresentar em um teatro. "Diferente de tocar na noite, o fervor e as pessoas cantando junto, o público estava sentado em seus lugares apreciando a música. Isso me motiva." Segundo Eduardo, além da oportunidade de conhecer pessoas e viajar para outros lugares, a banda lhe ajudou a entender melhor quem ele é como músico e pessoa.

 

*Estagiária, sob a supervisão  de Greici Audibert.
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